segunda-feira, 28 de julho de 2008

A COMUNIDADE YUBA - UM EXEMPLO PARA O MUNDO!

Cultivo de sonhos
Katsuo Takimoto é um
dos moradores mais
velhos da Comunidade
Yuba. E carrega consigo
a história de uma das
mais bem-sucedidas
experiências de vida
comunitária no Brasil,
onde o cultivo do campo
e da arte têm igual valor.

Lavrando Arte
Inspirada em Rousseau, Marx, na Bíblia e nos kibutzim
israelenses, uma comunidade de japoneses e descendentes
no interior de São Paulo dedica-se a plantar sonhos
e colher arte.

texto : Lucille Kanzawa, de Mirandópolis


Quando não estão cultivando a terra, os 70 moradores
desta comunidade dedicam-se à dança, à música, ao teatro,
à literatura e à pintura.

Imagine um lugar onde as pessoas trabalham sem salário,
mas todos têm casa,comida e assistência médica garantidas.
Ninguém recebe ordens de ninguém.Cada um ajuda como pode,
conforme a idade permite. Nas horas de folga, todos
se dedicam à dança, à música, à pintura, à leitura e
ao teatro. A arte,aqui, se cultiva com tanto esmero quanto
o plantio de frutas e legumes. Quem chega logo percebe que
a entrada é livre. Não há muros nem portões. A única ba-
rreira pode ser o idioma, caso você não fale japonês. A
sensação é a de ter atracado na mítica ilha de Utopia,
idealizada no século 16 pelo escritor inglês Thomas More.
Ou talvez de descobrir um insólito kibutz israelense onde
todos seus habitantes falam japonês. Mas basta conviver
por algum tempo com os 70 moradores da Comunidade Yuba,
nos arredores deMirandópolis, no interior de São Paulo,
para aprender que esses
imigrantes e descendentes de japoneses nada fazem senão
cumprir a missão de manter viva a ideologia semeada há
oito décadas por seu fundador, Issamu Yuba: cultivar a
terra, orar e amar as artes.

Antes mesmo de o sol nascer, Katsuo Takimoto, de 82 anos,
já está de pé fazendo sua sagrada ginástica matinal.
Quando às 6h15 o som de um berrante
anuncia que o café da manhã está na mesa,
Kuma-san ("urso", em japonês),como Takimoto é chamado por
todos,é um dos primeiros a chegar ao grande refeitório.
De formação cristã, é ele quem faz a primeira oração do
dia e convoca a todos para um minuto de silêncio.


Quando não estão cultivando
a terra, os 70 moradores desta
comunidade dedicam-se à dança,
à música, ao teatro, à literatura
e à pintura

As mesas e os bancos são longos, a comida é farta. O
café e o leite são produção própria. O pão foi assado
no forno a lenha e o queijo e as geléias foram preparados
pelas mulheresque se revezam semanalmente na cozinha.
Ovo cozido não podefaltar,e vem da pequena granja que em
outros tempos já foi a maior da América Latina.
Para os que preferem um cardápio mais oriental,há arroz,
sopa de soja e peixe.As crianças e os adolescentes são
os mais apressados:logo passará o ônibusque os levará
à escola estadual próxima à fazenda.

Os que ficam já conhecem bem suas tarefas. Trabalhar não é
obrigatório. Se alguém quiser dormir durante o dia, ninguém
irá criticá-lo por isso. Mas todos sabem de cor as palavras
do fundador que dizem que "a liberdade depende da responsa-
bilidade de cada um". Katsue, Keiko, Yo, Yassuko e Hana-tian
começam então a cuidar da limpeza e da preparação do almoço,
enquanto Podin e Emi correm para a lavanderia coletiva.
Kuma-san sai de fininho e, como todo dia, se dirige a um
galpão bem rústico onde um piano de cauda divide o mesmo abrigo
com máquinas agrícolas. Enquanto dedilha concentrado a "Sonata
ao Luar" de Beethoven, luzes potentes se acendem. É Yuzo quem
entra para dividir a cena e secar os grãos de feijão azuki que
há dias cobrem o grande palco de madeira. As cortinas se fecham,
as luzes se apagam. As mão de Kuma-san agora estão prontas para
fazer pequenos reparos no galinheiro, enquanto as de Yuzo vão
se juntar às dos outros companheiros na lavoura.


só japonês
Com 100 anos de idade, Tatsukichi
Naganawa é o morador mais velho
da comunidade. Como todos os de
sua geração, ele não fala
português. Passa o dia lendo
algum dos 10 mil livros em
japonês que circulam pelo lugar.

Missao e Hiroshi já estão na horta escolhendo as verduras
e os legumes para o almoço. Helen, Nozomi, Mie, Assaka e
Maurício fazem parte do mutirão de jovens que todos os dias
vão trabalhar na colheita de goiaba, principal fonte de
renda da comunidade. Mitsue cuida dos suínos, enquanto Flávio,
Lintaro e Kogiro se ocupam do gado leiteiro. Tsuji, Saki,
Junko e Evelyn garantem a produção do cogumelo shitake.
Fujiko pode estar na granja ou cortando lenha.
Douglas, Daigo e Issamu Yazaki já estão prontos para
entregar os produtos colhidos nos supermercados da região
de Mirandópolis.Amanhã tudo será diferente, e cada um dos
moradores estará em outro lugar.
Com poucas exceções, as pessoas trabalham num sistema de
rodízio para garantir que todos aprendam um pouco de cada
função.

Às 12h15 o mesmo berrante da manhã avisa que é hora do almoço.
No cardápio,pratos japoneses se misturam a brasileiros.
Hashis, os tradicionais palitos,confundem-se com garfos e facas.
Mas a língua é uma só: o japonês. Muitos moradores nem sequer
falam português. Depois da refeição, o salão pulsa como
nunca. Esse é o coração da Comunidade Yuba, e há tempo e
espaço de sobra para um bate-papo, uma sessão de vídeo,
um ensaio rápido de canto e piano,trabalhos artesanais e
até um corte de cabelo. Isso quando não acontece um
batizado, um casamento ou um velório. Mitsue aproveita
o tempo livre para fazer cerâmica, enquanto Maurício põe
em prática as habilidades que aprendeu
com o tio na oficina de luteria.


vida comunitária
Todo dia, o berrante anuncia
a hora de acordar e a das
refeições. A vida é a mesma de
uma fazenda, mas tudo aqui é
comunitário, do serviço ao lucro..

Os estímulos estão por toda parte e as vocações são
cultivadas onde quer queelas se manifestem. Seja na
varanda de uma casa, num jardim de esculturas,numa
oficina mecânica, num treino de beisebol, seja na
biblioteca de mais de10 mil títulos (a maioria doados
e em língua japonesa). As crianças têm aulas de música,
balé, pintura e do idioma japonês desde cedo, mas também
são educadas a cuidar da horta e a realizar pequenas
tarefas, como limpar as mesas e recolher as roupas do varal.
Para Assaka Yuba, mãe de seis filhos, é importante que
a criança aprenda a se conscientizar da importância da
participação de cada um na vida comunitária. Ela sempre
viu tudo com muita naturalidade, nunca como obrigação.
"Dedicar-nos à arte e ao trabalho é como
respirar e comer. É nossa vida", diz.

Para a maioria dos adultos, as atividades artísticas
só começam mesmo à noite. Por isso, após um belo banho
de ofurô e do jantar, sempre há música
no ar. Pode vir do clarinete de Tsuji, da flauta
transversal de Nozomi, do piano de Fujiko, do violoncelo
de Assaka, do acordeão de Keiko, do violino
de Massakatsu ou de um grupo de coral. As segundas,
quartas e sextas são sempre reservadas às aulas de balé,
carro-chefe da Comunidade Yuba. Quem
comanda é a bailarina Akiko Ohara, de 68 anos.

Formada em dança contemporânea em Tóquio, ex-colega de
palco de mestres da dança como Tatsumi Hijikata e Kazuo
Ono, ela chegou à comunidade em 1961 como marido e escultor,
Hisao Ohara, e revolucionou a vida artística de seus
integrantes. Segundo Akiko, no Japão sua dança era cercada
de limites.Procurava o que queria expressar e nunca encontrava.
Aqui viu tudo muitolimpo, puro, aberto e sentiu-se livre para
fazer nascer o que é o hoje o Balé Yuba. Graças a seu alto
nível técnico e artístico e à sua versatilidade, o grupo já
fez 750 apresentações pelo Brasil e pelo Japão e
já teve cenários desenhados por artistas renomados,
como Manabu Mabe e Yashika Takaoka.


música na horta
A música é uma das artes mais
presentes na vida da comunidade.
As mesmas mãos que colhem
verduras mais tarde dedilham
violinos e violoncelos.

Liberdade é o que também buscava Yoshiki Tsuji,
de 53 anos, quando em 1975saiu do Japão para dar
a volta ao mundo. Parte dela de bicicleta. Após quase
cinco anos viajando por lugares como Paquistão,
Afeganistão, Irã, Grécia e África, Yoshiki veio parar
na Comunidade Yuba. A intenção de passar algumas
semanas por aqui acabou transformando-se em meses
e depois em anos, quando decidiu casar-se com Junko Yuba.
Hoje tem quatro filhos, responde pelo
cultivo de shitake e nem pensa em sair daqui.

Masakatsu Yasaki, de 61 anos, também foi um dos forasteiros
que vieram do Oriente e acabaram se identificando com o que
alguns chamam de "Yubaísmo".Quando chegou aqui em 1963,
aos 19 anos, ele já tocava violão e só pensava
em aprimorar sua técnica, mas aprendeu com o mestre Issamu
Yuba que "técnica é diferente de arte", que "um lavrador
tem que ser artista" e que "a arte nasce da terra e deve
viver da terra". Depois de fazer crescer uma plantação
inteira de arroz, Masakatsu entendeu por fim o sentido
das frases. "Foi comoescrever um poema numa folha de
papel em branco", lembra.

Casado com Keiko, sobrinha de Issamu Yuba, Masakatsu
é hoje o mais versátil dos moradores da comunidade.
Sapateiro, violinista, compositor, regente da orquestra
mirim, fotógrafo, cinegrafista, sonoplasta: o currículo
é vasto.Não é por acaso que ele se tornou o responsável
pelo acervo de documentos,
fitas de vídeo e reportagens sobre a Comunidade Yuba.


o mesmo palco
Durante o ano, o palco do teatro
serve também para a secagem
de grãos (acima).
É o mesmo palco onde, no Natal,
quatro gerações de Yubas
mostram sua arte.
As crianças aprendem desde
cedo a trabalhar a terra
e o talento artístico.

Mas é ali fora, a céu aberto, que estão expostos
os documentos mais concretos e expressivos do lugar:
as esculturas de Hisao Ohara, que ocupam
um jardim projetado pelo artista plástico
Kazuo Wakabayashi. Formado pela Universidade de Tóquio,
Hisao encontrou na comunidade a paz e a
tranqüilidade que buscava e viu na natureza sua fonte
de inspiração.Escolheu o granito para expressar sua arte.
"Por ser um material rebelde, dou-lhe formas suaves", dizia.
Nos 28 anos em que viveu aqui, esculpiu
sempre debaixo de uma grevílea. No dia seguinte à sua morte,
em 1989, a árvore começou a secar e também morreu.

Essa história transformou-se num dos contos do livro Katsue
e seus Contos,de Renata Katsue Yuba, filha do fundador.
No universo que criou dentro da casa que ela mesma construiu,
Renata pinta, canta e escreve com refinada sensibilidade.
"Meu pai sempre me dizia: ´Converse com Deus. Converse com a
natureza. Procure você dentro da arte e da oração'." E foi na
arte que ela encontrou a facilidade de convivência com os demais
companheiros. "Quando estamos no palco, todas as divergências
que existem entre nós desaparecem."

A advogada Satiko Yuba, relações públicas da comunidade,
explica que as discordâncias existem como em toda casa,
com a diferença que esta é uma grande família.
"Fazemos de tudo para conviver em harmonia, porque sabemos
que disso depende nossa sobrevivência. Conflitos geram
desintegração", diz.Ela conta que há 20 anos mudou-se
para cá quando se casou com Sérgio Yuba,um dos filhos do
patriarca. "Foi como se tivesse me casado com cem pessoas,
cada uma com seus pensamentos e manias. Tive que mudar
para poder seguir o estilo de vida dos Yubas.
Todo dia é uma grande lição."


Hoje Satiko é a primeira-secretária da associação que
a comunidade criou após a morte do último líder,
Tetsuhiko Yuba, filho de Issamu, em 2003. Ela assim como
todos os membros da diretoria, chegaram à conclusão de que
precisam dar condições para que os jovens que foram embora
voltem. Além disso, há uma preocupação em incentivá-los
a se casar com pessoas de fora,uma vez que a maioria
qui já se tornou parente.

Luís Yuba, sobrinho de Issamu, que, além de trabalhar
nas plantações de abóbora, milho verde e mandioca,
é presidente da associação vai mais longe:
"Para garantir o futuro, temos que mudar. A realidade
existe e não podemosficar aqui sonhando num mundo de utopia.
Cada um tem que ser responsável por si e pela comunidade".
Para ele, a Comunidade Yuba não é nenhum modelo de
sociedade e, para os que chegam aqui tentando defini-la,
ele logo diz: "É apenas um lugar com uma maneira diferente
de se viver". E resume: "Sempre nos ensinaram que o dinheiro
era o grande mal da humanidade, mas infelizmente precisamos
dele também". Se o progresso material vem a passoslentos e
com muitos tropeços ­ porque nunca foi a prioridade dos Yubas ­,
as conquistas que eles tiveram nos campos artístico e espiritual
são inegavelmente ilimitadas.

Quando chega o Natal e as cortinas do palco do velho barracão
se abrem, as quatro gerações que se apresentam são a prova
viva de que o sonho de Issamu Yuba ainda consegue resistir
ao tempo e às ordens do capitalismo. Aqui não há leis,
concorrências, disputas ou ambições mesquinhas. Todos contribuem
para o bem-estar coletivo sem deixar de respeitar a individualidade
de cada um. Assim como Hisao Ohara deu formas sublimes à dureza
do granito, esses bravos lavradores conseguem nos mostrar que,
unidos na alegria e na tristeza, é possível cultivar no mundo
primitivo do campo a mais refinada
forma de arte.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

LIN YUTANG DIZ:

A paz da consciência é o maior de todos os dons. Uma pessoa com a consciência limpa não tem motivos para temer os espectros.

Lin Yutang

quarta-feira, 16 de julho de 2008

SEDENTARISMO E SAÚDE

Índice de exercício de adolescentes é 27 vezes menor do que de crianças

LINDSEY TANNER
da Associated Press, em Chicago

Um grande estudo realizado nos Estados Unidos mostra que as crianças americanas se tornam preguiçosas quando se tornam adolescentes. Enquanto 90% das que têm 9 anos praticam atividades físicas por duas horas na maioria dos dias, menos de 3% o fazem quando chegam aos 15 anos.

O estudo, publicado no "Journal of the American Medical Association", teve participação de cerca de 1.000 crianças com idades variadas, entre 2000 e 2006. Ele aponta ainda que os meninos são mais ativos do que as meninas em todas as idades.

A pesquisa sugere também que menos de um terço dos adolescentes dessa idade se exercitam dentro do mínimo recomendado pelo governo --uma hora de exercício moderado a intenso, como ciclismo, caminhada rápida, natação ou cooper.

O resultado levanta preocupação quanto à continuidade do sedentarismo na idade adulta, o que aumenta o risco de problemas de saúde.

"As pessoas não vêem esse cenário como a crise que de fato representa", afirma Philip Nader, pediatra e professor emérito da Universidade da Califórnia, em San Diego. Para ele, a conclusão "dramática" está relacionada a mudanças nas escolas e ao uso de computadores e videogames.

O sedentarismo está relacionado a problemas como doenças cardíacas, obesidade, hipertensão e diabetes.

A divulgação do estudo ocorre uma semana após um importante grupo de pediatras recomendar que mais crianças tenham seu nível de colesterol checado e que algumas com até oito anos sejam medicadas com drogas para baixar o nível do lipídio.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

OS RISCOS DA COMPETIÇÃO NAS CRIANÇAS

Esportes de competição podem prejudicar crianças, diz ONG

da Efe, em Madri

A ONG Save the Children apresentou um relatório ("Crianças em Competição") no qual critica a prática de esportes competitivos por atletas cada vez mais jovens.

O estudo mostra que o esporte repercute positivamente no desenvolvimento físico, mental e moral de uma criança, pois, além de ser uma diversão, é capaz de disciplinar e dar autoconfiança.

No entanto, a Save the Children diz que o esporte é prejudicial quando deixa de ser uma atividade lúdica e complementar e passa a servir apenas para "satisfazer os desejos dos pais".

Segundo a ONG, 2.600 atletas menores de 16 anos vão parar anualmente em hospitais do Reino Unido com lesões provocadas por exercícios físicos.

Além disso, cerca de 15% desses esportistas correm o risco de sofrer distúrbios alimentares como a anorexia ou problemas de crescimento, como a perda da massa óssea prematura.

O relatório também critica a China, cuja capital será palco dos Jogos Olímpicos deste ano. Para a Save the Children, o vertiginoso êxito do esporte chinês ocorre junto ao rigoroso programa de treinamento estabelecido em mais de 11.600 escolas esportivas, nas quais cerca de 6 milhões de crianças treinam em condições "duríssimas" e chegam a sofrer maus-tratos de seus treinadores.

Já algumas modalidades colocariam diretamente em perigo a integridade física desses atletas prematuros, como o muay thai ou boxe tailandês, um esporte que tem movimentado muito dinheiro e submete crianças a "condições terríveis", segundo a ONG.

Há também o caso das corridas de camelos nos Emirados Árabes Unidos, proibidas em 2005, nas qual se utilizavam milhares de meninos retirados de Bangladesh, Paquistão ou Sudão.

Outro motivo de crítica foi o "recrutamento" de jovens promessas de futebol, a maioria deles da África, que por meio de documentos falsos vão parar na Europa.

Segundo o relatório da ONG, 98% desses jovens vivem em de forma ilegal na Europa, 70% são menores de idade e a maioria acaba nas ruas das grandes cidades, sem possibilidade de retornar a seus países de origem.

Para evitar abusos, a organização aconselha que os menores de sete anos não participem de competições e que até os 13 não se especializem em nenhum esporte.

sábado, 5 de julho de 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

EFEITOS DA POLUÇÃO E DA EMISÃO DE GASES

Proximidade de trânsito aumenta risco de alergias em crianças

MÁRCIO DAMASCENO
para a BBC Brasil, de Berlim

Um estudo realizado na Alemanha sugere que crianças que moram em regiões de trânsito movimentado aumentam em 50% as chances de desenvolver doenças alérgicas como asma e infecções de pele.

Os pesquisadores do Instituto de Epidemiologia do Centro Helmholtz para Pesquisa de Infecções analisaram 3 mil crianças em dois grupos o primeiro residia no centro da cidade de Munique, no sul da Alemanha, e o segundo era composto por crianças que viviam nos arredores da cidade, afastadas da área mais movimentada.

A pesquisa observou as crianças durante seis anos. Todas elas moravam no mesmo local desde o nascimento.

Segundo o estudo, quanto mais longe do trânsito as crianças moravam, menor era o risco de desenvolver doenças respiratórias e alergias.

De acordo com os pesquisadores, trata-se do primeiro estudo epidemiológico controlado em laboratório que comprova os efeitos já conhecidos da poluição do trânsito na saúde das crianças.

Impacto

Para chegar aos resultados, a equipe considerou a distância da casa ao trânsito e a contaminação do ar registrada no endereço das crianças - a partir da concentração de partículas finas e gases resultantes da queima dos motores dos carros.

Segundo a pesquisa, a incidência de doenças respiratórias nas crianças, como asma alérgica e alergias ao pólen, aumentou proporcionalmente ao nível de partículas finas no ar.

Já a elevação da presença de gases poluentes na atmosfera, como o dióxido de nitrogênio, contribuiu para elevar os casos de alergias de pele nas crianças.

Os resultados indicaram ainda que as crianças que viviam a menos de 50 metros de uma via principal desenvolveram alergias com uma freqüência até 50% maior em relação às crianças de mesma idade, mas residentes em áreas afastadas do trânsito.

Para avaliar as condições de saúde dos participantes, a equipe de cientistas analisou exames de sangue para constatar a presença de anticorpos dos tipos mais comuns de alergia e realizou questionários freqüentes com os pais das crianças.

TRANSITO É EDUCAÇÃO

Educar versus punir e os conceitos distorcidos

Educar versus punir e os conceitos distorcidos

O Denatran determinou que os radares sejam sempre sinalizados claramente, com placas indicativas e disponibilizados de forma visível. Multas que forem aplicadas por radares escondidos não terão mais validade.

A justificativa para isso é sempre a de que deve-se "educar em vez de punir". Claro, concordo. Não se deve punir alguém que não foi previamente instruído sobre o que se pode ou não fazer, porque estaria-se castigando um inocente. Mas vejamos:

O que é mais importante, decorar o nome correto da placa ou saber o que se espera do motorista ao avistá-la?
- A primeira educação que um motorista recebeu sobre velocidade no trânsito foi na auto-escola. Ou pelo menos deveria ser, se as pessoas não fizessem as aulas só para conseguir o documento e sim para aprender a dirigir direito. E dirigir não é só apertar os pedais e mover as alavancas com o sincronismo correto e saber encaixotar o carro entre dois pauzinhos, como o exame prático exige de nós. Ou decorar a placa que corresponde a "área de campismo", uma das questões que podem ser encontradas no exame teórico. Muito mais importante é ensinar a respeitar uma placa de "Passagem sinalizada de escolares", que hoje em dia serve só de enfeite e é afixada nos postes apenas para se cumprir uma determinação legal na sinalização da via. Que motorista diminui a velocidade ao ver uma placa dessas? Que motorista percebe uma placa dessas? Instruir é educar.

Em iniciativa da ONG Ruaviva, "anjos" lembraram os motoristas sobre os limites de velocidade
- A segunda educação que o motorista recebe é a placa que sinaliza a velocidade máxima permitida na via. Se está escrito 60km/h, vamos andar a 60km/h. Informar é educar.

Depois de devidamente instruído e informado, portanto devidamente educado, o motorista recebe uma multa por excesso de velocidade. Se irrita, exibe o belo discurso de que é necessário educar e não punir, fala em "indústria das multas", diz que a prefeitura enche os bolsos com as multas aplicadas. Ué, mas ele já não foi educado? Se ele não sabe para que serve aquela placa, não deveria dirigir. E quantas dessas multas são realmente indevidas? Quantas multas foram aplicadas em veículos que não cometiam infração nenhuma? Quem está errado, o radar fotográfico ou o motorista?

Enquanto isso, vemos estatísticas como essa, que diz que os atropelamentos são a maior causa de mortes no trânsito em São Paulo. Ou seja, quase metade dos mortos em acidentes de trânsito não estavam nem dentro dos carros! Quem está errado, o pedestre ou o motorista?

Repare que o vídeo dessa reportagem diz que o motorista de um ônibus "perdeu o controle" e atropelou um grupo de pessoas que estava na calçada. A máquina começa a agir sozinha. Diz o repórter que o veículo "desgovernado" derrubou três postes, invadiu um canteiro e passou por cima de um monte de gente. É simples assim, perde-se o controle: o motorista está dirigindo ali, calmamente, atento e concentrado. De repente ele "perde o controle", como se ele próprio fosse uma das vítimas da máquina demoníaca. Imagine se um açougueiro "perde o controle" do facão que usa para cortar as carnes, ou se um cabeleireiro "perde o controle" de sua tesoura! Mas perder o controle de um carro é sempre uma boa desculpa. De fato, perde-se o controle muito fácil ao dirigir: em uma fechada, no trânsito parado, até ao ver um pedestre que ainda não terminou de atravessar quando o sinal abriu...

No final, a reportagem tenta justificar os atropelamentos mostrando vários pedestres que se recusam a usar uma passarela da região e atravessam em meio aos carros. Claro que há casos em que os pedestres se arriscam, mas os atropelamentos não acontecem apenas em situações assim. Que o diga a família da moça que morreu atropelada por esse ônibus...

E o pior é que o direito do carro particular sobre o espaço público se tornou parte tão integrante da nossa cultura urbana, que muitas pessoas partem do princípio de que o pedestre é que não deveria estar na rua. Por esses dias estava almoçando com alguns amigos quando ouvimos uma freada seca: um carro, ao fazer a curva para entrar numa rua em alta velocidade, quase atropelou meia dúzia de pedestres que atravessavam na faixa. Uma das pessoas na mesa disse, irritada: "mas também, o cara me atravessa com o farol aberto!". Eu ri e lembrei ele que não há sinal de pedestres naquele cruzamento, que se o pedestre fosse esperar o sinal abrir para ele, não atravessava. Ele não entendeu! Retrucou que "mesmo assim, tem que passar correndo, não pode atravessar devagar assim".

Achei melhor não discutir. Ele não compreenderia se eu tentasse explicar que a prioridade é do pedestre (tanto ética como legalmente), que nem todos conseguem atravessar a rua correndo e que portanto o normal é atravessar andando, que o motorista tem que olhar antes de entrar na rua se tem alguém na faixa que está ali na esquina, bem visível para ele, e tudo o mais. Achei melhor não estragar meu almoço. No dia que um carro cantar pneu em cima dele, duvido que ele se considere errado. Pessoas assim nunca estão erradas, no máximo se enganam... ;)

CONSUMO EXCESIVO E AMBIENTE

Consumo é vilão ambiental, diz americano

Para antropólogo Emilio Moran, nascido em Cuba, é preciso "aprender a desligar a televisão" e dizer "não" a mercados

Estudioso da Amazônia, pesquisador cobra estímulo à indústria regional; "em 30 anos, PIB da população da região subiu menos de 1%"

Divulgação

Antropólogo Emilio Moran lança livro em evento em São Paulo

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para resolver o problema ambiental nº 1 do mundo, a receita do antropólogo Emilio Moran, 61, nascido em Cuba, mas morador dos Estados Unidos desde os 14 anos, chega a ser prosaica. "Temos que aprender a desligar a televisão. Ela é a principal ferramenta do consumismo", afirma o especialista em América Latina, que há mais 30 anos investiga o desenvolvimento humano da Amazônia brasileira.
Apesar de a entrevista ter sido feita em um hotel a meio quarteirão da rua Oscar Freire (o palco das grandes grifes mundiais em São Paulo fora dos shoppings) o entrevistado, com orgulho, comenta: "Esta calça que estou usando eu comprei há 25 anos."
Moran é um acadêmico tradicional e assiste televisão. Na Universidade de Indiana, ele dirige um centro que une a antropologia às mudanças climáticas globais - o agricultor amazônico, por exemplo, segundo uma pesquisa feita pelo grupo, não sabe se proteger contra o El Niño, porque ele não registra essas oscilações naturais ao longo do tempo.

Pobreza amazônica
Se o modelo mundial de desenvolvimento, para o pesquisador, está errado, o da Amazônia idem. "Nos últimos 30 anos, o aumento do PIB da população amazônica subiu menos de 1%. Na região, quem ganha é quem já era rico em São Paulo e no Rio de Janeiro."
O antropólogo, que chegou à floresta no início das obras da rodovia Transamazônica, diz que pouco mudou na região. "Não existe infra-estrutura para o pequeno agricultor. A estrada, por exemplo, não mudou muito, continua ruim. Existe ausência de governo na Amazônia com toda a certeza."
Os grandes produtores, lembra o pesquisador, montam sua própria infra-estrutura e acabam fugindo do problema encontrado pelos menores.
"Falta compromisso com a indústria regional, que poderia valorizar os produtos amazônicos. Daria, por exemplo, para fazer uma fábrica de abacaxi enlatado, ou de suco". São várias opções disponíveis, diz Moran, que trabalha em áreas críticas, como Altamira (PA).
A experiência acumulada no campo, inclusive nos recantos amazônicos, é que leva o antropólogo a afirmar: "O maior problema ambiental do mundo é o consumismo. O mercado ensina egoísmo e o indivíduo cada vez mais está centrado em si mesmo", afirma.
Parte do caminho para sair dessa cilada ambiental, Moran apresenta no livro "Nós e a Natureza" (Editora Senac), lançado anteontem no Brasil. "É um livro mais apaixonado. Experimentei a sensação de ir além dos escritos acadêmicos", diz.
Para reforçar seu ponto de vista, de que o modelo mundial é insustentável, Moran usa exemplos da classe média brasileira e da sociedade americana. Ambas ele conhece bem.
No caso nacional, cita a história em que um filho de uma família de classe média do interior de São Paulo comentou com a mãe que eles eram pobres. O motivo era a ausência de uma televisão de plasma na sala, em comparação com a residência do vizinho.

"Subprime" ambiental
"No caso americano, a crise imobiliária é também um problema claro de consumismo", afirma Moran. "O americano, na média, está todo endividado. A maioria paga apenas os juros. Cada um tem uns US$ 20 mil em dívidas só no cartão de crédito". E isso, segundo ele, apenas para querer ter mais e mais. "No caso do mercado imobiliário, por exemplo, muitos fazem a segunda hipoteca [antes de quitar a primeira] para mudar para uma casa maior.
Segundo o antropólogo, enquanto nos anos 1950 a casa de uma família média americana tinha uma vaga na garagem e 140 metros quadrados para seis pessoas, hoje ela tem espaço para três carros e 300 metros quadrados para quatro pessoas.
E os carros, lembra Moran, queimam petróleo cada vez mais em maior quantidade, por causa do tamanho e da potência do motor. "Tenho feito o caminho inverso. Hoje, tenho um carro pequeno e de quatro cilindros", conta o cientista.
Apesar de o quadro ambiental mundial ser dramático, o antropólogo afirma ser otimista e retrata isso em seu novo livro também. "Se não existir esperança, o melhor é pendurar as chuteiras e ir embora."
Para Moran, é o consumidor individual o único que tem poder de ação de fato. "As pessoas podem chegar e dizer "não". Elas podem não consumir mais porque aquilo vai endividá-las e criar pressões [ambientais]".
Além de ensinar os filhos a lerem com um olhar crítico os comerciais, todos deveriam olhar suas gavetas, seus armários, diz ele. "O importante é saber que não se está sozinho. Existem milhões de pessoas no mundo que já não aceitam esse modelo [de desenvolvimento] que nos levará ao colapso."
Moran estuda o Brasil desde os anos 1970

DA REPORTAGEM LOCAL

O antropólogo Emilio Moran estuda o Brasil desde os anos 1970. Antes de chegar aos Estados Unidos aos 14 anos, para morar em um campo de refugiados, ele nasceu e passou sua infância em Cuba, para onde nunca mais voltou.
"Eu minha mãe, que já era viúva, saímos como uma mala e US$ 5". É por isso, brinca, "que acabei conseguindo me virar com pouco". O motivo da saída foi o medo de ver o filho único ser mandado para a antiga União Soviética. "Era um boato que corria na época, de que os melhores alunos iriam para a Europa, que nunca se confirmou. Foi apenas quem optou por isso", relembra.
Discípulo do brasilianista Charles Wagley, da Universidade da Flórida, Moran, formou-se em literatura e estudou Rui Barbosa e a escravidão antes de fazer pós-graduação em antropologia. Vem desse tempo o aprendizado do português. "Fiz isso, para poder trabalhar em qualquer país da região [a América Latina]". (EG)