sábado, 1 de maio de 2010

KOHAI DOHAI SEMPAI

Senpai, dôhai e kôhai
Na sociedade japonesa, a posição social e a hierarquia são
fatores importantes nas relações interpessoais

Mesmo após a formatura dos estudantes, essa relação mantém-se como se não tivesse sido quebrada
(Foto: Divulgação)

Desta vez, trataremos das relações denominadas senpai, dôhai e kôhai, muito importantes em várias áreas da sociedade no país do sol nascente, principalmente nas escolas. Uma tradução livre desses termos em português poderia ser: senpai – veterano, ou, mais específicamente, aquele que ingressou no meio antes, seja o curto espaço de tempo de alguns dias, seja um ano; dôhai – colega, aquele que ingressou ao mesmo tempo; e kôhai – calouro, aquele que ingressou depois, ou por último. Na sociedade japonesa, em que a posição social e a hierarquia são fatores importantes nas relações interpessoais, existe a necessidade de se estar sempre ciente do modo como se comportar com pessoas conhecidas, amigos, chefes, desconhecidos, etc. O respeito para com os mais velhos e os mais experientes é bem-visto socialmente.

O senpai, seja nas empresas, seja nos esportes, é a pessoa que detém mais conhecimento e experiência e, portanto, merece o respeito por parte do kôhai. O tratamento dispensado ao senpai é caracterizado por formalidade, obediência e confiança. Quanto ao dôhai, no Japão, é comum nas escolas (de ensino básico e fundamental) e nas empresas, que as pessoas tenham a mesma idade; isso se deve ao fato de que praticamente não há repetência nas escolas no sistema educacional japonês; logo, são colegas, pois ingressaram juntas e têm a mesma experiência de vida. As artes marciais japonesas e os jogos coletivos como o beisebol são as atividades mais conhecidas que possuem a relação veterano–calouro. É comum, principalmente nas artes marciais, como o caratê, o aikidô e o judô, que os alunos mais experientes (geralmente os de graduação do 1-kyu para cima) ensinarem as técnicas básicas para os mais novos na arte, de modo que o professor possa se dedicar a outros alunos. Ou quando o professor estiver impossibilitado de comparecer à academia, será o senpai o responsável pela aula.

Muitas vezes, a relação entre senpai-kôhai é comparada à hierarquia militar, pois o menos experiente dessa equação deve obedecer sem questionamentos ao veterano. É esperado do calouro que trate o veterano com linguagem de tratamento bastante cortês, que o cumprimente curvando-se sempre que cruzar com ele e que o chame somente pelo sobrenome. Para os brasileiros e para os ocidentais em geral, essa relação pode parecer muito injusta e impessoal, já que, no caso brasileiro, é comum tratarmos nossos colegas de trabalho de maneira afável, chamar nossos chefes pelo primeiro nome ou sermos bons amigos de nossos veteranos na faculdade. Entretanto, a confiança é um importante fator entre senpai e kôhai, uma vez que aquele não recebe o respeito e a obediência deste como se fosse uma via de sentido único: o senpai trata (ou deveria assim fazer) os calouros com gentileza e mostrar interesse e preocupação no dia-a-dia; dá conselhos sobre a escola e sobre os professores, dá dicas de como estudar melhor, do funcionamento de algum departamento numa empresa, etc.

Mesmo após a formatura, essa relação mantém-se como se não tivesse sido quebrada. Até quando o antigo kôhai ascendeu na escala socioeconômica e passou seu senpai, perdura esta relação.

Aqui, essa relação apresenta-se de modo enfraquecido, já que, no Brasil, as relações são construídas e mantidas de maneiras muito distintas: no Japão, o grupo é mais importante do que o indivíduo.

E, assim, essa relação ensina aos japoneses três coisas: a pensar no coletivo, a perceber que a liderança não é algo fácil e a viver em sociedade de acordo com os valores japoneses.

CREDO DO SAMURAI

Credo do Samurai
Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus país.

Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa.

Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino.

Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão.

Eu não tenho poderes mágicos, faço da personalidade meus poderes mágicos.

Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.

Eu não tenho visão, faço da luz do trovão a minha visão.

Eu não tenho audição, faço da sensibilidade meus ouvidos.

Eu não tenho língua, faço da prontidão minha língua.

Eu não tenho leis, faço da auto-defesa minha lei.

Eu não tenho estratégia, faço do direito de matar e do direito de salvar vidas minha estratégia.

Eu não tenho projetos, faço do apego às oportunidades meus projetos.

Eu não tenho princípios, faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio.

Eu não tenho táticas, faço da escassez e da abundância minha tática.

Eu não tenho talentos, faço da minha imaginação meus talentos.

Eu não tenho amigos, faço da minha mente minha única amiga.

Eu não tenho inimigos, faço do descuido meu inimigo.

Eu não tenho armadura, faço da benevolência minha armadura.

Eu não tenho castelo, faço do caráter meu castelo.

Eu não tenho espada, faço da perseverança minha espada.