sábado, 12 de abril de 2008

A Ponte de R$ 230 milhões

Parabéns São Paulo por mais um monumento ao congestionamento e a segregação. Seja bem vindo "Estilingão"!!!

10/04/2008

Estilingão - Ponte Estaiada do Morumbi

No final desse mês, São Paulo irá ganhar um presente, muito útil para alguns, inovação tecnológica para outros, praticamente uma obra de arte dirão outrens, mas no meu ponto de vista, não passa de um reflexo da política pró caos que impera a dezenas de anos em nossa cidade.

Como disse um amigo meu, “Uma ponte milionária com o nome do dono da Folha, que leva até a avenida do dono da Globo, em uma região feita para os carros e que é o centro da especulação imobiliária em São Paulo... Lindo!

Já outro fez uma relação mais simples e direta: “Meios de comunicação em Massa X Especulação Imobiliária X Cultura do automóvel individual

Eu particularmente acho esse troço feio, bizarro, mas gosto não se discute, tem gente que acha até eu bonito! Mas vamos analisar o que e a quem essa obra irá beneficiar. Um motorizado me disse o seguinte, “ela será útil quando alguém do Morumbi quiser ir para o Aeroporto, assim não precisa pegar a Bandeirantes”. Como a grande maioria da população tem que ir para o Aeroporto diariamente, tá aí uma boa utilidade.

O mais interessante é que ela não terá acesso direto ao Morumbi, suas rampas acessarão a pista expressa da Marginal Pinheiros sentido Interlagos, mas indiretamente trará alívio aos moradores desse bairro, já que a maioria dos motoristas que seguem para Santo Amaro e Interlagos vão usar a ponte nova.

O problema é que, logo nos primeiros dias, já teremos trânsito lento em cima da ponte, pois nos horários de pico é comum a Marginal, sentido Interlagos, ficar completamente parada, desde a ponte Transamérica até a ponte do Morumbi. Portanto só servirá para mudar a direção do congestionamento e também para transferir o caos da Berrini para as ruas residenciais do Brooklin.

O que mais me indigna é que essa ponte custou 230 milhões de reais. Sabe o que poderíamos fazer com esse dinheiro? Construir 100 km de corredores de ônibus, ou mesmo, 1000 quilômetros de ciclovias. Isso mesmo, já que o custo médio de uma ciclovia gira em torno de 200 e 250 mil reais.

Mas para quem interessa a construção de ciclovias? Para as montadoras é mais fácil jogar no ventilador que a única solução é o Metrô. Como deve demorar uns 100 anos para atender toda a cidade, eles ganham um tempo considerável para continuarem vendendo carros como se fossem bananas. Agora, se em 4 anos a cidade tiver 1.000 km de ciclovias, isso pode levar mais de 2 milhões de ciclistas as ruas, sendo que, segundo pesquisas, 1 milhão desses ciclistas podem ser motoristas, já imaginaram o transtorno que causaríamos?

Veja a pesquisa Ibope-Nossa São Paulo completa.

Um outro ponto que ninguém da grande mídia menciona é que ganharemos não só mais uma ponte, mas também um símbolo do descaso em relação as nossas as leis. Mas para que se preocupar com leis se a maioria dos motoristas ignora as mais básicas leis de trânsito? Não podemos cobrar que nossos governantes façam o mesmo não é? Mas voltando ao descaso, essa obra não poderia ter sido feita em lugar melhor.

Em 3 de fevereiro de 1995, foi promulgado o Decreto 34.854, que regulamenta a lei 10.907 de 1990, o decreto diz o seguinte:

Art. 1º - Os futuros estudos, projetos e obras viárias no Município de São Paulo, visando a construção de avenidas, contemplarão, obrigatoriamente, espaço destinado a implantação de ciclovias.


Como a avenida Águas Espraiadas (hoje Roberto Marinho) foi inaugurada em janeiro de 96, em cumprimento a essa lei, foi construída uma ciclovia de 200 metros, numa avenida de 4,5 quilômetros.

Ciclovia Avenida Roberto Marinho - Águas Espraiadas
Inicio da Ciclovia com o "marco inicial" no meio dela.

Ciclovia Avenida Roberto Marinho - Águas Espraiadas
Fim da ciclovia, como você é bobinho, achou que ela iria até o final da avenida?

Esse mesmo decreto prevê também:

Art. 4º - Os novos projetos para implantação de avenidas que impliquem construção de pontes, viadutos e aberturas de túneis deverão prever que essas obras de arte sejam dotadas de ciclovias, integradas com o projeto de construção da avenida.

Seria uma perfeita oportunidade de compensar uma das maiores injustiças dessa cidade em relação aos ciclistas e pedestres que são as pontes de São Paulo, mas como esta bem claro na foto abaixo, perderam mais esta oportunidade. Aliás, essa é a única sinalização oficial, que diz respeito a Bicicleta, que você encontrará com facilidade na cidade de São Paulo.

Estilingão - Ponte Estaiada do Morumbi

Já tentou atravessar a pé alguma ponte da cidade? Faça o teste e vá bem preparado para a aventura, pois em praticamente nenhuma ponte da cidade você consegue realizar uma travessia segura. A única ponte onde pedestres e ciclistas conseguem atravessar com “relativa” segurança é a ponte do Morumbi. Já cadeirantes, me desculpem, continuem sem poder atravessar nenhuma ponte da cidade.

Pontes de São Paulo - João Dias
Pedestre, atravesse sobre a faixa de pedestres. Como assim que faixa?

Pontes de São Paulo - João Dias
Atravesse calmamente pois nessa cidade você tem a preferência.

Mas fazer o que? Com certeza teremos muitas pessoas elogiando esse trambolho, até alguns pedestres que nem carro possuem ou mesmo motoristas que jamais passarão por essa ponte por morarem tão longe daqui.

Fruto dessa cultura de glamorização do patrimônio motorizado e de uma política absurda em benefício ao transporte individual motorizado. Mas de quem é a culpa, do governo? Claro que não, a culpa é da população, que influenciada ou não, foram eles que pediram isso aos políticos. A 15 anos atrás, metade dos motoristas de hoje andavam apenas de ônibus. Mas ao invés de exigirem uma melhoria do transporte público, resolveram pedir mais avenidas e pontes para usarem seus carros quando tivessem dinheiro (ou crédito) para comprar.

Antes de encerrar, não podemos citar a questão da Favela Jardim Edith, aquela que fica ao lado do Estilingão. Você sabia que querem tirar aquele povo dali e mandarem para o Campo Limpo a 18 km de distância, ou dar um cheque despejo no valor que varia de 5 a 8 mil reais?

Estilingão - Ponte Estaiada do Morumbi

Detalhe 1: Na região do Campo Limpo existem diversos moradores que vivem em áreas de risco, ou mesmo na beira de córregos sem a menor infraestrutura sanitária. Porque não alocar nessas construções da CDHU pessoas da região, ao invés de trazer de uma vez uma enorme população para uma área já densamente habitada?

Estilingão - Ponte Estaiada do Morumbi
Moradia do Campo Limpo, próximo aos prédios da CDHU.
Exibir mapa ampliado

Porque não construir em um terço da área da atual Favela Jardim Edith, "predinhos" de 4 andares no máximo, sem elevadores, para alocar os moradores da região e no resto da área, construir uma grande área de lazer para a população?

Detalhe 2 que responde o Detalhe 1: Relatório emitido pela Emurb em no final de 2007, informa que a Prefeitura deve arrecadar R$1,126 bilhão com a venda de potencial construtivo na região da Operação Urbana Águas Espraiadas. Ou seja, dá pra construir 4 pontes daquelas só com o "terreninho" ali do lado.

É isso aí povo de São Paulo, parabéns, essa ponte é o símbolo de uma conquista de vocês, não era isso que tanto queriam? Continuem pensando e agindo assim, já que dentro de seus bólidos pouco importa se suas atitudes estimulam as injustiças que ocorrem em sua cidade. O mais importante não são mais vias para seus carros? Portanto aproveitem e saboreiem essa nova vitória, pelo menos enquanto tiverem ar para respirar.

André Pasqualini
http://www.ciclobr.com.br/

Um comentário:

Unknown disse...

GOSTARIA DE SABER SOBRE O QUE PENSA EM FAZER COM NOSSO PESSOAL,FORAM PROMETIDOS CDHU PARA TODOS NO MESMO LOCAL QUE MORAVAMOS,GOSTARIA DE CITAR QUE SOU NACIDO E CRIADO NAQUELE LUGAR E ADORARIA VOLTAR A MORAR LA!POIS MOREI 23 ANOS.OBRIGADO PELA ATENÇAO.POIS TEMOS DIREITOS E TEMOS QUE EXERCELOS!